Por André
Amorim
Quando
estava na escola onde estudei um pouco do idioma japonês, antes de vir para
Kofu, eu havia comentado com uma colega que não compreendia o porquê da
preocupação dos japoneses com a segurança, já que o Japão é tão seguro. A
resposta foi tão simples, mas tão lógica, que quebrou a minha ingênua premissa
em um segundo: ‘mas, André, é justamente porque as pessoas aqui são tão
preocupadas com a segurança que este é um dos países mais seguros do mundo’.
Pois bem,
agora imagine você que um dos festivais de verão mais famosos e peculiares do
Japão tem como principal atração a queima de dezenas de tochas de três metros
de altura, acesas em uma rua de uns 8 metros de largura, em meio a inúmeros
transeuntes e barraquinhas de comidas e outros produtos típicos. Seria a
receita para acidentes em série, certo? Mas isso se não estivéssemos na cidade
de Fujiyoshida, que abriga o Yoshida Fire Festival, marcando o fim da temporada
de escalada do Monte Fuji.
Se a
preocupação com a segurança é imprescindível, talvez ocidentais como eu
esperaríamos ver medidas tangíveis de isolamento das tochas acesas, avisos
sonoros, recomendações escritas, etc. Mas tudo é tão previsível e harmônico,
que os moradores e os estrangeiros podem apreciar o crepitar e o calor
proporcionados pelo espetáculo, em meio a uma multidão, e não temer pelo pior.
E não se trata de brincar com fogo, mas sim apreciar e procurar entender a
força da tradição local que mantém os costumes do festival até hoje, em meio a
tantos estrangeiros e curiosos. Veja o momento em que uma das
tochas é levantada:
Aliás, uma das explicações usuais para o rito do festival remonta um mito em que a deusa do Monte Fuji deu à luz numa cabana em chamas para provar a paternidade divina de seus filhos, o que lhe faz ser reconhecida como a deusa da proteção aos partos e contra incêndios e acidentes (maiores detalhes aqui).
Ah, essa bandeira verde-amarela... deu a certeza de que eu seria muito bem atendido pela turma da Luciana com a mesma simpatia da qual hoje me habituei a receber dos nipônicos. O nosso colega Justin já escreveu um pouco sobre esse sentimento que paira nos festivais japoneses (leia esse post aqui). Há sensações particulares demais para serem expressas somente em palavras. Como ver o Fujisan ao fundo e ter uma sensação de força diante da grandeza da natureza, ou sentir segurança no aparente paradoxo de estar próximo de tochas crepitantes.
Enfim, numa eventual viagem ao Japão, no verão, considere com carinho esse
festival nos planos. É possível chegar de ônibus ou trem, a pouco mais de uma
hora e meio da estação de Kofu. Outras informações do
site oficial podem ser acessadas aqui.
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