por Andre Amorim, com fotos de Thalita Yuri Yuhara e Tiffany Lee
Se alguém lhe convidasse para visitar um vulcão potencialmente ativo,
sabendo que a subida pode levar 8 horas, e que você pode enfrentar filas
intermináveis e condições climáticas desfavoráveis (como chuva, neve, ou até
tempestades), o que você pensaria sobre o convite? Pois então, aqui em
Yamanashi se ouve tanto a pergunta ¨Já subiu o Monte Fuji? Não gostaria de ir?¨
que, por um momento, olvida-se todos os riscos e até a resposta vira clichê:
¨claro que quero ir¨.
Afinal, ele está lá,
imponente, onipresente no sul da província. E não é para menos. Patrimônio histórico mundial pela UNESCO, é o símbolo do Japão, seu cume está a 3776 metros de altitude e
pode ser visto de Tóquio, num dia claro. A sua visão já se torna um convite por
si só. É um tema recorrente nas artes jaopnesas, especialmente nas pinturas de
Katsushida Hokusai. Vê-lo
em destaque na paisagem já é um colírio, imaginar poder ver o Japão lá de cima
torna-se um desafio desejável. Mas e as dificuldades? Se contemplar o fogo do
festival de Fujiyoshida de tão perto funciona,
o que mais poderia dar errado nessa aventura?
Tudo! Embora o Monte Fuji seja uma
montanha cuja subida não é considerada difícil pelos experts do assunto, ela exige
uma preparação específica.
Pra começar, trata-se de um vulcão considerado ativo. Pelo menos em portencial
(ainda que a última erupção tenha sido somente há três séculos atrás). Então, os caminhos são repletos de rochas vulcânicas em pedaços. As
trilhas são divididas em nove paradas, ou estações, mas costuma-se tomar um
ônibus até a quinta estação e começar a aventura a partir dela. Essa estação já
está mais ou menos na metade da distância entre o pé e o cume do monte. Então costuma-se
esperar entre uma e duas horas na quinta estação,para que o aventureiro possa
se aclimatar com a altitude.
Em sentindo algum desconforto, dor de cabeça,
pressão forte nos ouvidos, é melhor nem começar! Por vezes, durante a subida,
encontramos muitos marinheiros de primeira viagem subestimando os efeitos da
baixa pressão atmosférica e parando de tanto cansaço. Esse também é um problema
para quem trabalha nas cabanas,
onde se costuma pernoitar para continuar a subida de madrugada e ver o nascer
do sol no topo. As estadias nesses locais são realizadas com reserva e não há
espaço adcional para acolher a todos que sobem e decidem parar de última hora.
Por fim, a previsão do tempo não é muito confiável nessas alturas, e
tempestades repentinas não são incomuns.
Enfim, avisos não faltam. Cabe ao turista,
então, garantir, pelo menos, o mínimo de roupas, equipamentos, comida, água e
dinheiro. Uma coletânea de dicas para isso pode ser acessada aqui. Feitas as
ressalvas, lá fomos nós nessa aventura, um grupo de uma dúzia de estrangeiros,
no último final de semana desta temporada (a subida só é possível durante o
verão, devido às condições do clima).
Começamos ao meio-dia, com previsão de
chegar na estação 8,5 (isso mesmo, estação oito e meio) em umas seis horas. No
início, creio que todos sentiram um pouco de cansaço, mas, ao longo do caminho,
fomos nos acostumando com o ritmo. Em alguns trechos há muitas pessoas subindo
e não tem como acelerar muito. Esse movimento massivo de pessoas foi o que me
impressionou mais, para além da vista já esperada lá do alto.
(Fotos por Tiffany Lee)
Após a sétima estação, ao cair da noite, o frio
começa a apertar (isso porque estávamos num dia bom, imagine com chuva...). Mas
deu pra chegar na estação 8,5, resistir aos efeitos da altitude, jantar e
descansar um pouco...Dormir? Qual o quê! Estávamos em uma cabana no Monte Fuji,
e não num hotel! Os avisos dos guias para nos prepararmos rapidamente nos fez
retomar o objetivo – alcançar o topo e ver o nascer do sol.
Então, nossa previsão foi adiantada meia hora.
Em vez de retomar a subida às 3:30, saímos pouco antes das 3 horas, e conseguimos
chegar no cume por volta das 4:30. Multidão e chuva fizeram o inicialmente
previsto ser um pouco extrapolado. Mas nada que nos impedisse de ter visto,
vivido e registrado o nascer do sol e a cratera do Fuji. Incrível ter
acompanhado essa gente toda, de toda parte do mundo, nessa jornada.
A descida. Ah, a descida...quem disse que todo santo ajuda?Parece que ela não acaba
nunca. Metade do tempo da subida, mas tudo o que queria era chegar logo de
volta na quinta estação e aproveitar um pouco mais as atrações de lá (lojas,
restaurantes, templo). Somando tudo, noves fora, da quinta estação até o pico,
oito horas pra subir, cinco pra descer. Uma dica pra descida: volte sem pressa,
vai parando, curtindo a paisagem, tirando fotos, bebendo água. Isso na próxima
temporada, pois de agora em diante só se vai até a sexta estação. Corpo
recuperado, a certeza de que valeu a pena, e a pergunta agora vai ser ¨Quantas
vezes já subiu o Monte Fuji? ¨
Confira
aqui o site oficial para maiores
informações!
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